quinta-feira, 28 de maio de 2015

Rogério "Senna" Ceni

Faz tempo que eu não escrevo um texto longo. Encontrei um bom motivo, Rogério Ceni. O goleiro artilheiro está perto de encerrar sua carreira (daqui a pouco falo mais sobre isso). Uma brilhante carreira. Mais de vinte anos trabalhando, apenas trabalhando. O seu marketing é o trabalho.
De dez anos de profissão, oito eu passei dentro do Centro de Treinamento do São Paulo. Tenho credibilidade para falar certas coisas. E nem vou dar atenção para suas críticas.
Lembro o primeiro dia que eu fui ao CT. Estava assustado, quase com medo, receio de fazer alguma coisa errada. Segui aquela boa e velha tática, fiquei na minha. Logo na chegada tive uma surpresa, o goleiro apareceu na minha frente, parou, estendeu a mão e me cumprimentou. Confesso que eu não esperava. Fiquei satisfeito por ser bem recebido.
Os anos foram passando, e passando, e passando... Foram muitas entrevistas dentro de campo, com ótimas declarações. E sempre depois de partidas memoráveis e outras nem tanto. Neste período foram poucas entrevistas no local de treino do goleiro. Mas sempre pude observar bem de perto todos os seus passos, pulos, defesas e caras de dor.
“O Rogério Ceni é metido”. Ouvi muito esta frase por aí, e de gente que nunca conheceu o arqueiro, e nem vai conhecer. Tive apenas um problema com o Ceni, e faz pouco tempo. Poucos jogos atrás. Formulei mal uma questão e acabei ouvindo uma resposta atravessada (com educação). Faz parte. Tirando este pequeno, e insignificante, incidente, eu nunca conheci o seu lado arrogante (que eu desconfio que não existe).
Rogério nasceu com um talento incrível para usar as mãos. Como goleiro é ótimo. Mas de tanto trabalhar e treinar acabou “descobrindo” outra vocação, fazer gols. Poucos goleiros no mundo conhecem o prazer de fazer um gol. Alguns atletas costumam dizer que o gol pode ser comparado a um orgasmo. Ou seja, goleiro fazendo gol é quase um orgasmo múltiplo.
Estou lendo o bom livro do Galvão Bueno (Fala, Galvão!). Recomendo. Em um dos capítulos, lógico, Ayrton Senna é citado. Já li muita coisa sobre o piloto, mas o Galvão tem mais credibilidade para falar. E você pergunta, o que tem isso a ver com o Rogério Ceni?
Não gosto e não faço comparações. Acho isso bem bobo. Tonto mesmo. Mas o Rogério Ceni tem características bem parecidas com as do Ayrton Senna. O falecido piloto era obcecado pela vitória, perfeccionista, focado, odiava perder, sabia usar muito bem a força da mente e era um líder. Tudo muito parecido com o goleiro São Paulino.
Se eu fosse o Rogério Ceni, eu já teria abandonado a carreira faz tempo. Não precisa passar por muita coisa que está passando. E muito menos ouvir tantas besteiras. A idade pesa, mas o goleiro não toma gol por causa dos anos acumulados. E nem quando falha é por causa das suas 42 primaveras. Mas claro, sempre lembrando que eu não gosto de aposentar ninguém. Não trabalho no INSS. Agora, Rogério Ceni até dezembro só faria mal para ele mesmo.
O Mito, como os São Paulinos adoram falar, é inteligente demais. Demais mesmo. E isso desagrada algumas pessoas. Alguns jornalistas, por exemplo, não gostam de um sujeito que saiba responder de forma correta uma questão. Eu prefiro trabalhar com os inteligentes. O goleiro, que não é apenas goleiro, em breve vai fazer muita falta. Com o perdão do trocadilho.

Nenhum comentário: