sexta-feira, 24 de junho de 2011

Roberto Thomé

Cresci assistindo e admirando seu talento. Hoje tenho o prazer de conviver com este grande jornalista. O Blog do Torva apresenta... Roberto Thomé.


Blog do Torva: Você pode falar um pouco sobre o Roberto Thomé?

Roberto Thomé: Sou um gaúcho urbano. Nasci e me criei em Porto Alegre com todas as oportunidades que uma cidade grande oferece, mas nem por isso deixei de usar bombacha, aquela espécie de calça bem larga, característica da indumentária do sul. Nos tempos da minha infância, e bota tempo nisso, era comum a gurizada se vestir como o chamado "gaudério da fronteira", com botas, a bombacha, camisa xadrez e, no meu caso, lenço azul.

Blog do Torva: Trabalhou em alguma profissão antes de ser jornalista?

Roberto Thomé: Fui bibliotecário numa faculdade particular em Porto Alegre. Foi uma grande experiência de contato com o público e com os livros. E enquanto os alunos estavam nas salas de aula, eu me dedicava à leitura, gostava dos clássicos aos populares.

Blog do Torva: E quando ainda era menino, você tinha algum sonho?

Roberto Thomé: Tinha o mesmo sonho que muitos garotos, queria ser jogador de futebol. Andei batendo bola na várzea de Porto Alegre, mas nunca tive o empenho suficiente para fazer teste no Grêmio ou no Internacional.

Blog do Torva: E como chegou até o jornalismo? 

Roberto Thomé: Fui parar no jornalismo por influência de alguns amigos da época do ensino médio. Antes de me dedicar ao esporte, passei pelas editorias de polícia, geral e economia. Cobri muitas batidas policiais, eleições e o dia-a-dia na Bolsa de Valores.

Blog do Torva: Como foi sua passagem pela TV Globo?

Roberto Thomé: Fiquei 17 anos na Globo. Cobri as copas de 86 no México, de 90 na Itália e de 94 nos Estados Unidos. Foi uma época maravilhosa.

Blog do Torva: Não ficou nenhuma magoa da Globo?

Roberto Thomé: Sempre fui muito bem tratado na Globo. Saí em 2001 para desenvolver outros projetos e desde 2002 estou na Record.

Blog do Torva: Mas deixar a Globo foi triste?

Roberto Thomé: Faz parte da profissão e da vida. Se você tem equilíbrio, consegue dominar o ego e as pequenas vaidades, qualquer eventual problema pode ser superado.

Blog do Torva: E fazer jornalismo na TV Record, tem muita diferença para outra emissora?

Roberto Thomé: As diferenças são pontuais. Mas acho que o jornalismo da Record tem uma visão crítica mais acentuada, tanto no esporte como nas outras editorias.

Blog do Torva: O futebol evoluiu com o tempo?

Roberto Thomé: O futebol de um modo geral não mudou. As relações de poder continuam as mesmas, a cartolagem segue cometendo as mesmas bobagens e falcatruas como antigamente. O que mudou mesmo, para os jornalistas, foi a relação com jogadores e treinadores, hoje muito mais fria e distante. O chamado advento das assessorias de imprensa colocou uma barreira entre as partes e ela é cada vez mais um empecilho para a formação de boas fontes.

Blog do Torva: Fazer jornalismo está mais fácil ou mais difícil atualmente?

Roberto Thomé: O jornalismo sempre foi a busca pela notícia fresquinha, em primeira mão. Aos poucos a transmissão de uma simples informação foi ganhando clareza e objetividade e, em alguns casos, uma linguagem sofisticada com toques e retoques literários. Fazer tudo isso diariamente é um desafio, mas as dificuldades são as mesmas de anos atrás. Para quem trabalha em jornal, rádio e televisão, a internet é um complicador por causa da agilidade e velocidade. As notícias ganham instantaneamente espaço em sites e blogs. Isso obriga os jornalistas a buscarem formas criativas de se comunicar com o público.

Blog do Torva: Ainda existe o jornalismo romântico que alguns falam?

Roberto Thomé: Acho que não há mais espaço para romantismos. Tudo está muito profissionalizado. Os horários de fechamento, por exemplo, atendem mais aos interesses comerciais das empresas do que ao fluxo de informações. Há também uma resistência psicológica maior de quem está do outro lado. E o relacionamento entre jornalista e fonte está mais distante, mais superficial, isso impede o aprofundamento de questões fundamentais para fechar uma matéria.

Blog do Torva: O que você acha dessa nova safra de jornalistas na mídia?

Roberto Thomé: Acho que falta cultura esportiva para a maioria, sem falar no déficit de cultura geral, o que é um fator limitante na profissão. Mas há gente muito boa também. Repórteres combativos e bons perguntadores, entre os quais incluo você, meu caro Márcio, que não se intimidam diante de entrevistados mal humorados.

Blog do Torva: Você gosta de jornalismo misturado com humor?

Roberto Thomé: O humor é sempre bem-vindo, mas não pode ser o eixo central de programas como os que a gente vê por aí. A graça pela graça muitas vezes se esgota na primeira piada e o que vem depois passa a ser só empulhação.

Blog do Torva: Os jogadores de futebol, e de outros esportes, mudaram muito ao longo dos anos?

Roberto Thomé: Boleiro é sempre boleiro. Em cada época é uma minoria absoluta que se destaca pelas ideias e pelo modo educado e articulado de se comunicar. O caso recente do ex-jogador Muller é um exemplo de que os anos passam e a cabeça dos boleiros não muda. Todos sabem, ou deveriam saber, o que aconteceu com Garrincha, Marinho Chagas, Jorge Mendonça e tantos outros craques, mas as histórias se repetem. Nos outros esportes, como vôlei e basquete, o nível intelectual dos atletas foi e continua sendo melhor.

Blog do Torva: Torcedor de futebol critica muito o trabalho da imprensa, não existe muito respeito. Por que isso está acontecendo?

Roberto Thomé: A imprensa é uma grande vidraça. É considerada culpada por quase tudo de ruim que acontece, e não só no esporte. Em Brasília então... A realidade é que o século 21 impôs um novo modo de vida, tanto nos costumes, quanto nos valores. O sucesso é perseguido a qualquer preço, não há muito respeito pelas opiniões divergentes e as pessoas estão menos tolerantes. Qualquer matéria ou comentário que não agrade é motivo de insatisfação. As pessoas precisam ter mais paciência e tolerância, mas estes são artigos raros nos dias de hoje. 

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